sexta-feira, 8 de junho de 2012

Variação linguística - Aula 3


Variação linguística

A variação linguística é o modo pelo qual, se diferencia como os falantes de um mesmo idioma se manifestam verbalmente. 
A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o seu uso seja uniforme.
Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua.
É importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais perceptível na pronúncia e no vocabulário.

Vale a pena lembrar algumas diferenças

Na língua falada, há entre falante e ouvinte um intercâmbio direto, o que não ocorre com a língua escrita, na qual a comunicação se faz geralmente na ausência de um dos participantes. Na fala, as marcas de planejamento do texto não aparecem, porque a produção e a execução se dão de forma simultânea, por isto o texto oral é pontilhado de pausas, interrupções, retomadas, correções, etc...

 Isto não se observa na escrita, porque o texto se apresenta acabado, houve um tempo para a sua elaboração. É bom lembrar ainda que não se deve associar língua falada a informalidade, nem língua escrita a formalidade, porque tanto em uma quanto em outra modalidade se verificam diferentes graus de formalidade. Podem existir textos muito formais na língua falada e textos completamente informais na língua escrita.

A língua escrita, estática, mais elaborada e menos econômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada. A possibilidade de gestos, olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, estando, por isso, mais sujeita a transformações e a evoluções.
Nenhuma, porém, se sobrepõe a outra em importância. Nas escolas principalmente, costuma se ensinar a língua falada com base na língua escrita, considerada superior.
A nós professores cabe ensinar as duas modalidades, mostrando as características e as vantagens de uma e outra, sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade ou inferioridade, que na verdade não existe.

Níveis de variação linguística

É importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais perceptível na pronúncia e no vocabulário. Esse fenômeno da variação se torna mais complexo porque os níveis não se apresentam de maneira estanque.
Nível fonológico - por exemplo, o l final de sílaba é pronunciado como consoante pelos gaúchos, enquanto em quase todo o restante do Brasil é vocalizado, ou seja, pronunciado como um u; o r caipira; o s chiado do carioca.
Nível  morfossintático - muitas vezes, por analogia, por exemplo, algumas pessoas conjugam verbos irregulares como se fossem regulares: "manteu" em vez de "manteve", "ansio" em vez de "anseio"; certos segmentos sociais não realizam a concordância entre sujeito e verbo. Isto ocorre com mais frequência se o sujeito está posposto ao verbo. Há ainda variedade em termos de regência: "eu lhe vi" ao invés de "eu o vi".
Nível vocabular - algumas palavras são empregadas em um sentido específico de acordo com a localidade. Referindo se a uma criança do sexo masculino, em Portugal diz-se "miúdo", ao passo que no Brasil usa-se " moleque", "garoto", "menino", "guri"; as gírias são, tipicamente, um processo de variação vocabular.

Variação de registro
As variações de registro podem ser de três tipos: grau de formalismo, modalidade e sintonia. Cada tipo não aparece isolado, eles se correlacionam.
Para se fazer entender, qualquer pessoa precisa estar em sintonia com o seu interlocutor e isto é facilmente observável na maneira como nos dirigimos, por exemplo, a uma criança, a um colega de trabalho, a uma autoridade. Escolhemos palavras, modos de dizer, para cada uma dessas situações. Tentar adaptar a própria linguagem à do interlocutor já é realizar um ato de comunicação. Pode-se dizer que o nível da linguagem deve se adaptar à situação.


O conceito de erro em língua

Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos de ortografia. O que normalmente se comete são transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num momento íntimo do discurso, diz: "Ninguém deixou ele falar", não comete propriamente erro; na verdade, transgride a norma culta.
Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um banquete trajando xortes  ou quanto um banhista, numa praia, vestido de fraque e cartola.
Releva considerar, assim, o momento do discurso, que pode ser íntimo, neutro ou solene.
O momento íntimo é o das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre amigos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas perfeitamente normais construções do tipo:
Eu não vi ela hoje.
Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se alteram:
Eu não a vi hoje.
Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o comete, passando, assim, a constituir fato linguístico registro de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda que não tenha amparo gramatical.


Língua popular (informal)
A linguagem coloquial, informal ou popular é aquela linguagem que não é formal, ou seja, não segue padrões rígidos, é a linguagem popular, falada no quotidiano.
O nível popular está associado à simplicidade da utilização linguística em termos lexicais, fonéticos, sintáticos e semânticos. Esta decorrerá da espontaneidade própria do discurso oral e da natural economia linguística. É utilizado em contextos informais.
Sendo mais espontânea e criativa, a língua popular se afigura mais expressiva e dinâmica. É aquela que usamos no dia-a-dia, nas conversas informais com amigos, no bate-papo e no bilhete para a empregada ou para o filho que irá chegar, com as instruções para o jantar. Descontraída, dispensa formalidades e aceita gírias, diminutivos afetivos e termos regionais.

Língua culta (formal)
Forma linguística que todo povo civilizado possui, é a que assegura a unidade da língua nacional. E justamente em nome dessa unidade, tão importante do ponto de vista político-cultural, que é ensinada nas escolas e difundida nas gramáticas.
A língua funcional de modalidade culta, que compreende a língua literária, tem por base a forma linguística utilizada pelos segmentos mais cultos e influentes de uma sociedade. Constitui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colaborando na educação.


A gíria
O mal maior da gíria reside na sua adoção como forma permanente de comunicação, desencadeando um processo não só de esquecimento, como de desprezo do vocabulário oficial. Usada no momento certo, porém, a gíria é um elemento de linguagem que denota expressividade e revela grande criatividade, desde que, naturalmente, adequada à mensagem, ao meio e ao receptor.
Ainda que criativa e expressiva, a gíria só é admitida na língua falada. A língua escrita não a tolera, a não ser na reprodução da fala de determinado meio ou época, com a visível intenção de documentar o fato, ou em casos especiais de comunicação entre amigos, familiares, namorados, etc., caracterizada pela linguagem informal.

 Os jargões
Jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Existe, por exemplo, o jargão dos médicos, o jargão dos especialistas em informática, etc...
Imagine que você foi a um hospital e ouviu um médico conversando com outro. A certa altura, um deles disse:
"Em relação à dona Fabiana, o prognóstico é favorável no caso de pronta-suspensão do remédio."
É provável que você tenha levado algum tempo até entender o que o médico falou. Isso porque ele utilizou, com seu colega de trabalho, termos com os quais os dois estão acostumados. Com a paciente, o médico deveria falar de uma maneira mais simples. Assim:
"Bem, dona Fabiana, a senhora pode parar de tomar o remédio, sem problemas".
Uma mesma pessoa pode escolher uma forma de linguagem mais conservadora numa situação formal ou um linguajar mais informal, em situação mais descontraída. Quantas vezes, isso não acontece conosco, no cotidiano? Na família e com amigos, falamos de uma forma, mas numa entrevista para procurar emprego é muito diferente.


 Gêneros da variação linguística

Faixa etária
Palavras que variam ao longo das gerações, cada idade possui uma especificidade em sua fala. Um jovem de 18 anos não usa os mesmos termos que um homem de 40 anos, pois a língua se transforma com o tempo.

Sexo
Homens e mulheres falam de maneiras distintas, de acordo com os padrões sociais que lhes são culturalmente condicionados.

Status socioeconômico
Desigualdade na distribuição de bens materiais e culturais, que reflete em diferenças sociolinguísticas.
Na maioria das vezes pessoas de status econômico mais baixo possui uma linguagem mais coloquial do que quem status mais alto.

Grau de escolaridade
 Anos de escolarização e qualidade da escola que frequentou.

Mercado de trabalho
Cargo ou atividade que um indivíduo desempenha dentro de seu trabalho.

Rede social
Pessoas com quem convivemos e interagimos no nosso dia a dia. A variação linguística portanto, é resultado das interações sociais.
Mas de um modo geral podemos separar a variação em dois parâmetros:
A variação geográfica (diatópica) e a variação social (diastrática),

Dimensões que propiciam as variedades linguísticas


Variação histórica

A variação histórica acontece ao longo de um determinado período de tempo, pode ser identificada ao se comparar dois estados de uma língua. Ao lermos alguns textos, na íntegra, do século XVII e XVIII nos deparamos com registros linguísticos que diferem com os de hoje. Alguns termos se tornaram obsoletos, outros permaneceram, mas com algumas alterações. Como exemplo, citamos o desuso de expressões com mesóclise: constatamos sua estranheza quando alguém lê trechos bíblicos com uma linguagem mais antiga. Os ouvintes tendem a demonstrar falta de familiaridade com esses termos, porém, apesar disto , muitas vezes concebem o teor de entendimento; uma vez que incoerências locais não destituem do texto a coerência.
 As manifestações que se operam no sistema linguístico sempre têm origem nas necessidades expressivas. O processo de mudança é gradual, não acontece de repente. Uma variante inicialmente utilizada por um grupo restrito de falantes passa a ser adotada por indivíduos socialmente mais expressivos e ao cair em uso torna-se uma norma; a partir daí, temos uma variante como verdade.
Neste caso temos:
Jovens ao desconhecer a existência de algumas palavras ao se depararem com essas, se interessam e as lançam em seus grupos sob novo significado ou com o mesmo mas tendo sempre como ideia primária o modismo.
Portanto, quanto à dimensão histórica da variação linguística, podemos afirmar que possuímos formas diversificadas de nosso falar por ora haver retenções de estágios anteriores ou por estarmos mudando o uso dos vocábulos para nos adequar a grande evolução temporal.


Variação geográfica

O Brasil apresenta um vasto território, caracterizado por regiões geográficas diversas. Com isso temos diferentes formas de pronúncia, vocabulário e estrutura sintática.
Basta uma singela frase ou uma simples palavra para caracterizar as pessoas pertencentes a cada um destes grupos.
 A variação se manifesta com maior evidência no léxico (vocabulário), nas realizações de determinados sons, como o “r”, “o”, “e”, “t” e no ritmo da fala, de maneira a distinguir áreas linguísticas e falares.
Mas no nível semântico também ocorre esta manifestação. Para denominar uma planta muito conhecida da família das  euforbiáceas temos nomeações diversas. Cada região uma denominação. Em Minas Gerais é conhecida como mandioca, no Rio de Janeiro como aipim e em Pernambuco, macaxeira ; evidenciamos pois a manifestação lexical da sinonímia. 
Percebemos que dentro de uma comunidade ampla, formam-se comunidades linguísticas menores em torno de centro polarizadores da cultura, política e economia, que acabam por definir os padrões linguísticos utilizados na região de sua influência.


Variação social

A variação social está relacionada a fatores sociais como etnia, sexo, faixa etária, grau de escolaridade e grupo profissional. Os vários estudos que enfocam este tipo de relação língua/fatores sociais têm privilegiado a variação morfo sintática ou a morfo fonológica.
Na comunidade belorizontina, por exemplo, a forma reduzida do pronome pessoal de 3ª pessoa ele para “eis” e “es” ocorre com maior frequência e é, portanto, favorecida na fala das pessoas de baixa escolaridade, isto é, que têm apenas o 1º grau.

Fica claro que a variação social não compromete a compreensão entre indivíduos, uma vez que alguns momentos de incoerência são sanados pelo contexto em que a fala se forma.
Comunidades diferentes vivenciam experiências diferentes e isto se reflete nos respectivos sistemas linguísticos: léxico, morfológico e sintático. Um grupo acadêmico de uma universidade apresentará uma variedade linguística bem diferente de um grupo de vendedores ambulantes do interior do Brasil. Cada qual usará o recurso linguístico que lhe foi concebido em seu processo de aprendizagem para efetuar a comunicação.

Variação estilística

A variação estilística se faz presente na expressividade individual duma língua e considera um mesmo indivíduo em diferentes situações de comunicação: se está em ambiente familiar, profissional, o grau de intimidade, o tipo de assunto tratado e quem são seus receptores.
 Temos vários fatores direcionando a escolha da variação específica para cada ocasião. Uma pessoa pertencente a um grupo profissional, quando desenvolve um léxico altamente especializado, é em certas ocasiões inacessível aos leigos. Isto ocorre no momento em que uma pessoa de baixa escolaridade ouve um diagnóstico médico (feito dentro da nomenclatura específica, mas fora do conhecimento do ouvinte); em um parecer judicial (quando o juiz, promotor, advogado expõem os fatos analisados para um júri, que apesar de ter uma escolaridade média, não consegue apresentar compreensibilidade devido aos inúmeros termos em latim e vocabulário muitas vezes rebuscado).
 Tomando por base as informações até então, concluímos que as diversas modalidades de variação linguística não existem isoladamente, há certamente, uma relação mútua entre elas. Uma variante histórica pode resultar em uma variante geográfica; assim como uma variante geográfica pode ser vista como uma variante social ao se considerar a migração entre regiões.

Variação, Manifestação Ocasional Ou Intencional?

As variações provocadas pelos fatores geográfico e histórico tendem a passar pelos falantes sem que estes percebam a ocorrência das mudanças na língua. Talvez porque sejam tênues para o indivíduo enquanto as emprega na comunicação; uma vez que as mudanças ocorridas por estes fatores são lentas e gradativas.
Entretanto entendemos que os fatores social e estilístico agem na configuração de nossa língua sob a harmonia da sincronia presente, tornando a comunicação, um processo de construção de significados em que ocorre interação do sujeito com a sociedade. A língua assim será usada como instrumento de definição do que é a “pessoa” entre “as pessoas.” A variação linguística surge intencionalmente. 
 Tomamos como exemplo a linguagem dos internautas. O advento da internet trouxe muitas transformações e inovações e dentre elas no campo textual, que se difere significativamente de outras formas escritas tradicionais. Este tipo de texto apresenta novas características, uma vez que a própria escrita adquire uma forma nova, identificada por elementos verbais e não verbais, como imagem, ícones e som. Ao se criar uma linguagem peculiar, as comunidades da internet acabam por criar uma sociedade linguística restrita com suas especificidades próprias como: ausência de pontuações, ausência de acentuação gráfica, processos de redução e processos de alterações ortográficas.
 Todas essas modificações têm uma questão humana presente – construir e agregar novos amigos. Na ânsia de criar elos com indivíduos que compartilham os mesmos interesses;  cria-se um dialeto próprio que os agrupe e ao mesmo tempo os distancie dos demais falares.
 As variações linguísticas podem ocorrer naturalmente como resultado dos fatores espaço e tempo, mas também como recurso de individualidade, quer por uma pessoa ou uma comunidade.
 Independentemente da intencionalidade ou não no emprego das variações, torna-se importante evidenciar os vocabulários diferenciados, como uma forma dos grupos marcarem presença na comunidade e seu papel de fator de projeção no meio social.
 É importante desmistificar a língua padronizada e respeitar a riqueza cultural presente nos falares que compõem a “língua portuguesa brasileira”.



Curso: Letras LL1 P33

Atividade para apresentar em sala de aula

Assunto: Variação Linguística

Matéria: Linguística geral

Prof° Martha Maldonado

Alunos:

Leonilda Cestariolli
RA - B44404 5

Marcio Henrique
RA - B4815 D3

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